O Governo de Mato Grosso do Sul iniciou a primeira queima prescrita no Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, como parte da preparação estratégica para a Temporada de Incêndios Florestais de 2025. A iniciativa integra o Manejo Integrado do Fogo (MIF), e tem como objetivo prevenir queimadas descontroladas, protegendo a biodiversidade pantaneira e propriedades vizinhas.
A ação, realizada pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBMMS) e articulada pelo Imasul, marca a primeira vez que essa técnica preventiva é utilizada em uma unidade de conservação da região pantaneira. O Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, com 78,3 mil hectares entre os municípios de Aquidauana e Corumbá, tornou-se o primeiro da região a aplicar a metodologia do MIF antes da chegada do período crítico de seca.
“A ideia é formar mosaicos com áreas controladamente queimadas, que funcionam como barreiras naturais. Isso reduz a intensidade dos incêndios e facilita o controle”, explicou o major Eduardo Teixeira, subdiretor da Diretoria de Proteção Ambiental do CBMMS.
A operação, iniciada no dia 6 de abril, envolve 42 profissionais, entre bombeiros, servidores do Imasul, representantes do Ibama/Prevfogo, ONGs ambientais e pesquisadores da UFMS, por meio do Nefau (Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas).
Ciência, prevenção e tecnologia
O uso do fogo de forma controlada, por meio da técnica de queima prescrita, é fundamentado em estudos científicos e práticas tradicionais. O professor da UFMS e doutor em biologia Geraldo Damasceno Júnior destaca que a ação é preventiva e estratégica: “Quanto mais cedo agirmos, menor o risco de grandes tragédias ambientais”.
Antes da ação no parque, o Instituto Terra Brasilis coordenou, entre os dias 3 e 5 de abril, treinamentos com produtores rurais da região, com foco em boas práticas no uso do fogo. A iniciativa teve apoio do Ministério do Meio Ambiente, Fundo Global para o Meio Ambiente e BID.
“A colaboração com os produtores é essencial. Eles vivenciam os incêndios anualmente e agora participam ativamente das soluções”, ressaltou o capitão Samuel Pedroso, do CBMMS.
Fogo contra fogo
O uso do fogo, quando bem planejado, pode beneficiar tanto o ecossistema quanto a atividade econômica da região. “A queima prescrita elimina o excesso de material combustível, reduzindo os riscos de incêndios devastadores. É um uso inteligente e seguro dessa ferramenta milenar”, afirmou Alexandre de Matos e Martins Pereira, do Prevfogo/IBAMA.

A operação é totalmente monitorada com o auxílio de estações meteorológicas portáteis, aplicativos de navegação e drones, que permitem uma visão estratégica das áreas. Os veículos utilizados são adaptados para o terreno pantaneiro, com destaque para o caminhão ‘auto bomba’, que armazena até 7 mil litros de água e pode lançar jatos de água em movimento, aumentando a eficiência no combate.
“A tecnologia aliada ao conhecimento técnico nos permite realizar uma queima segura, com mínimo impacto à fauna e flora”, disse o tenente Alexandre Araújo, engenheiro ambiental da DPA.
Futuro do bioma
A iniciativa faz parte de um plano maior de prevenção e planejamento, iniciado ainda no começo do ano, voltado para a Temporada de Incêndios Florestais de 2025. A proposta é expandir as ações de queima prescrita para outras unidades de conservação do estado, com base nos resultados obtidos nesta primeira experiência.
“A integração entre instituições públicas, comunidade científica e sociedade civil mostra que é possível proteger o Pantanal com inteligência e colaboração”, reforçou André Borges, diretor-presidente do Imasul.
A operação faz parte de uma série de ações preventivas, que incluiu cursos e treinamentos, visando o fortalecimento da resposta aos incêndios florestais no bioma.
“A queima prescrita é uma forma de mostrar que o fogo, quando bem orientado, pode ser uma ferramenta aliada da conservação ambiental e da produção sustentável”, completou Alexandre Pereira, analista ambiental do PrevFogo.