O núcleo interno da Terra, responsável por gerar o campo magnético que protege o planeta da radiação solar, está passando por mudanças significativas em sua estrutura e velocidade de rotação. A descoberta, publicada na renomada revista Nature Geoscience em fevereiro deste ano, é resultado de uma colaboração entre cientistas chineses e norte-americanos.
De acordo com a pesquisa, o núcleo interno – uma esfera sólida composta principalmente de ferro e níquel – pode ter sofrido deformações em suas bordas, com alterações de até 100 metros ou mais em algumas regiões nos últimos 20 anos. Essas transformações, além de influenciar a duração dos dias, têm potencial para impactar o clima e a vida na superfície terrestre.
O núcleo do planeta é dividido em duas camadas: o interno, sólido, e o externo, formado por metais líquidos em temperaturas extremamente altas. O estudo sugere que as mudanças estão ocorrendo justamente na fronteira entre essas duas regiões. A interação entre o núcleo interno e o fluxo de metal líquido do núcleo externo, aliada a forças gravitacionais, pode estar causando essas deformações.
Além disso, os pesquisadores observaram que, por volta de 2010, o núcleo interno começou a desacelerar sua rotação. Esse movimento é crucial para a manutenção do campo magnético terrestre. Sem essa proteção, a Terra poderia se tornar inóspita, assim como Marte, que perdeu seu escudo magnético há bilhões de anos.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas analisaram ondas sísmicas de terremotos ocorridos no mesmo local entre 1991 e 2023. O núcleo interno, localizado a cerca de 5.100 km abaixo da superfície, está ancorado pela gravidade dentro do núcleo externo em fusão. A proximidade dessa fronteira com o ponto de fusão do metal pode explicar as alterações recentes.
Essas descobertas abrem novas perspectivas para a compreensão da dinâmica terrestre e seus efeitos a longo prazo no clima, na duração dos dias e na própria habitabilidade do planeta.
Imagem: Reprodução/Science Photo Library