O estado de Mato Grosso do Sul registrou um aumento de 66% nos casos de feminicídio em 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior. De janeiro até 19 de novembro do ano passado, foram contabilizados 30 feminicídios e 78 tentativas, sendo 9 casos no Estado. Na Capital, Campo Grande, foram 9 feminicídios e 15 tentativas. Os números alarmantes revelam uma crise que exige ações urgentes do poder público e da sociedade. Até agora, pelo menos, sete mulheres foram mortas no Estado somente neste ano.
Na última sexta-feira (28/2), o vice-governador do Estado, José Carlos Barbosa, o Barbosinha, esteve na Academia de Polícia Civil (Acadepol), para conhecer de perto os avanços do Grupo de Trabalho (GT) criado no âmbito da Delegacia-Geral da Polícia Civil (DGPC), e coordenado pelos delegados Márcio Rogério Faria Custódio e Maria de Lourdes Cano.
Instituído no dia 19 de fevereiro, o GT tem a missão de diagnosticar, aprimorar e acelerar as investigações dos crimes praticados contra as mulheres, na tentativa de garantir mais eficiência no atendimento da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A delegada, Maria de Lourdes, ressaltou que são cerca de 6.000 boletins de ocorrência sendo “minuciosamente revisados para garantir o encaminhamento adequado ao Poder Judiciário”, diz.
No último dia 27, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, defendeu revisão nas regras de atendimento da Casa da Mulher Brasileira. O feminicídio de Vanessa Ricarte gerou grande repercussão em todo o país, causando indignação, que, segundo a Ministra, deve-se não apenas à gravidade do crime, mas também às falhas no atendimento que a jornalista recebeu na Deam, pouco antes de ser morta. Leia matéria completa aqui.
Casos Recentes
Uma jovem moradora de Itaporã, de apenas 14 anos, morreu depois de ter sido estuprada por um professor de jiu-jitsu, de 32 anos, que está preso. O crime foi registrado em outubro do ano passado. O mandado de prisão preventiva foi expedido no dia 27 de fevereiro. Nesta segunda-feira (3), o professor foi localizado na galeria que leva o nome dele, no centro de Itaporã. Ele permanecerá preso por tempo indeterminado.
Depois dele induzir a menina a abortar, dando à ela dose excessiva de remédios, ela morreu no dia 11 de janeiro. A ocorrência só foi divulgada agora.
O caso da jornalista Venessa Ricarte, de 42 anos, ganhou repercussão nacional. Ela foi brutalmente assassinada pelo ex-noivo, Caio Nascimento, horas após solicitar uma medida protetiva, no dia 12 de fevereiro. O crime expôs falhas graves no sistema de proteção às mulheres.
Menos de um mês depois, Giseli Cristina Oliskowiski, de 40 anos, foi morta a pedradas e queimada no bairro Aero Rancho, em Campo Grande, no primeiro dia de março. Seu corpo foi encontrado em uma cova rasa no quintal de uma residência. O acusado, Jeferson Nunes Ramos, foi preso em flagrante.
Além desses, outros casos chocantes marcaram o ano: Karina Corin, de 29 anos, e sua amiga Aline Rodrigues, de 32, foram mortas a tiros, no dia 1º de fevereiro, pelo ex-companheiro de Karina, em Caarapó.
No dia 18 do mesmo mês, a indígena Juliana Dominguez, de 28 anos, foi vítima de golpes de faca, e Mirieli Santos, de 26 anos, foi baleada pelo ex-marido, Fausto Júnior Aparecido, de 31 anos, no dia 22 de fevereiro, em Água Clara.
Emiliana Mendes, de 65 anos, foi estrangulada e teve seu corpo escondido em uma kitnet, com data de morte provável, no dia 23 de fevereiro. O assassino dela, Vanderson dos Santos Carneiro, de 35 anos, foi preso quando tentava fugir por uma rodovia da região.
Frágil e Falho
O assassinato de Vanessa Ricarte, em particular, levantou debates sobre a eficácia das medidas protetivas e a necessidade de reformas na rede de atendimento às mulheres. Apesar de ter solicitado proteção, Vanessa não foi salva, evidenciando a falta de estrutura para garantir a segurança das vítimas de violência doméstica.
Segundo especialistas, muitos feminicídios ocorrem após denúncias de agressões, o que indica que o sistema de justiça e segurança pública ainda não está preparado para prevenir esses crimes. A demora na implementação de políticas públicas eficazes e a impunidade em casos de violência doméstica são fatores que contribuem para o aumento dos números.
Pressão por Mudanças
Após o caso da jornalista, o governo do Estado começou a agir com mais presteza, prometendo ampliar a rede de proteção e melhorar o atendimento às vítimas. Entre as medidas anunciadas estão a criação de novas delegacias especializadas no atendimento à mulher e a capacitação de profissionais para lidar com casos de violência doméstica.
No entanto, especialistas alertam que apenas ações emergenciais não são suficientes. É necessário um trabalho contínuo de conscientização, prevenção e punição efetiva dos agressores. Campanhas educativas e parcerias com ONGs e coletivos também são fundamentais para mudar essa realidade.
O aumento dos feminicídios em MS reflete uma tendência nacional. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 1.463 casos de feminicídio em 2023, um aumento de 1,6% em relação a 2022. A região Centro-Oeste, onde Mato Grosso do Sul está localizado, é uma das que apresentam taxas mais altas desse tipo de crime.
Enquanto as mudanças não chegam, a sociedade precisa estar atenta e denunciar casos de violência. O feminicídio nada mais é do que a ponta do iceberg de uma cultura que ainda naturaliza a misoginia e a violência contra a mulher.