O Brasil está prestes a alcançar volumes recordes de exportação de soja no primeiro trimestre de 2025, impulsionado pela demanda robusta da China, maior importador mundial da commodity. O aumento no fluxo de embarques ocorre em um contexto de guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que pode potencializar ainda mais as vendas brasileiras, segundo analistas consultados pela Reuters.
De acordo com dados de embarques, os volumes atuais de soja ainda não refletem plenamente os efeitos da intensificação do conflito comercial. No entanto, especialistas apontam que, à medida que a disputa entre as duas potências econômicas se agravar, a demanda da China por soja brasileira tende a crescer ao longo do ano, especialmente no segundo semestre, de forma semelhante ao que ocorreu em 2018, quando a guerra comercial levou Pequim a redirecionar suas compras para o Brasil.
Até o dia 25 de março de 2025, as tradings brasileiras haviam embarcado 22,8 milhões de toneladas de soja, sendo 17,7 milhões destinadas à China, de acordo com Eduardo Vanin, analista da Agrinvest. Esses números representam recordes históricos, apesar de alguns desafios logísticos e do início mais lento da colheita brasileira neste ano.
Os embarques de soja para a China no primeiro trimestre ainda refletem compras antecipadas feitas até dezembro de 2024, quando a nova safra de soja ainda não havia sido colhida, e os mercados chineses de esmagamento estavam em bom ritmo. Essas compras antecipadas somaram cerca de 33 milhões de toneladas, um aumento de 7 milhões de toneladas em comparação com a mesma época do ano passado.
André Pessôa, presidente da Agroconsult, destaca que, por enquanto, o impacto direto da guerra comercial nos embarques ainda é pequeno. Ele acredita que a movimentação de compra antecipada da China no final de 2024 indicava uma estratégia de precaução, com os importadores chineses se preparando para uma possível reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA.
A Agroconsult prevê que o Brasil colherá mais de 170 milhões de toneladas de soja em 2025, o maior volume da história. Para Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado na Hedgepoint Global Markets, embora o impacto da guerra comercial ainda seja limitado, ele acredita que, caso o conflito continue, a demanda chinesa poderá ultrapassar as expectativas. Roque também observa uma tendência de longo prazo, com a China cada vez mais centralizando suas compras no Brasil, tendência que já era visível antes do início da guerra comercial.
Os embarques de soja do Brasil para a China já superaram a marca de 18 milhões de toneladas no primeiro trimestre, dois milhões a mais do que no mesmo período de 2024. A expectativa é que a guerra comercial tenha impactos mais evidentes no segundo semestre de 2025, quando tradicionalmente os Estados Unidos costumam vender mais soja para a China.
Dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) mostram que, entre janeiro e fevereiro de 2025, a China foi responsável por 79% das exportações brasileiras de soja, um aumento em relação aos 75% no mesmo período de 2024.
Com informações da Reuters