Equador Decidirá Presidência em Segundo Turno Entre Noboa e González

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Com 92% das urnas apuradas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), do Equador, confirmou o segundo turno da eleição presidencial entre o atual presidente, Daniel Noboa, de direita, e a candidata de esquerda Luisa González, do partido Revolução Cidadã, liderado pelo ex-presidente Rafael Correa. Até a manhã desta segunda-feira (10), Noboa liderava com 44,31% dos votos, enquanto González aparecia logo atrás, com 43,83%. O resultado surpreendeu, já que pesquisas anteriores indicavam cenários divergentes, com algumas apontando vantagem folgada para Noboa e outras prevendo a vitória de González.

O terceiro colocado foi Leonidas Iza, representante da principal coalizão indígena do país, com 5,26% dos votos. Ao todo, 16 candidatos disputaram os votos de mais de 12 milhões de eleitores. O segundo turno está marcado para o dia 13 de abril, quando será definido o próximo presidente do Equador para o mandato de 2025 a 2029. O cenário repete o segundo turno de 2023, no qual Noboa derrotou González com cerca de 52% dos votos.

Daniel Noboa, herdeiro de uma megacorporação do setor de exportação de bananas, assumiu a presidência em um mandato tampão de 15 meses após a dissolução do parlamento pelo então presidente Guillermo Lasso, que convocou eleições antecipadas em meio a sucessivas crises políticas. Já Luisa González, advogada e ex-deputada, representa a continuidade do correísmo, movimento político liderado por Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017.

O comparecimento às urnas no domingo (9) foi de 82%, em um país onde o voto é obrigatório. Dos votos computados, 91,1% foram válidos, enquanto 8,8% foram brancos ou nulos. Além da presidência, os equatorianos também elegeram os 151 representantes da Assembleia Nacional. Com mais de 90% das urnas apuradas, o partido de Noboa, Movimento Ação Democrática Nacional (ADN), liderava com 43,52% dos votos, seguido pelo Revolução Cidadã, de González, com 41,15%. Os demais partidos não ultrapassaram a marca de 2% dos votos.

Acusações e Tensões Políticas

Em discurso na noite de domingo, Luisa González afirmou ter vencido o primeiro turno e acusou Noboa de violar a lei eleitoral ao não se licenciar do cargo para disputar a reeleição.

“Ele cometeu um ato ilegal ao usar fundos e bens públicos para fazer campanha e abusou do poder para nomear vice-presidentes. Em uma semana, tivemos três vice-presidentes, e a Corte Constitucional considerou isso ilegal”, destacou. Noboa, por sua vez, não se manifestou desde o encerramento da votação.

Crise de Segurança e Violência

O Equador enfrenta uma grave crise de segurança, com os homicídios aumentando 588% nos últimos cinco anos. De uma taxa de sete assassinatos por 100 mil habitantes em 2019, o país registrou 38 homicídios por 100 mil habitantes em 2024, segundo dados do Ministério do Interior e Justiça. Em comparação, o Brasil registrou 18 homicídios por 100 mil habitantes no mesmo período.

Desde 2021, o Equador tem sido palco de rebeliões, motins e conflitos entre facções do crime organizado. Menos de três meses após assumir o governo, Noboa declarou o país em “conflito armado interno” após uma série de ataques, incluindo explosões, sequestros e até a invasão de um telejornal ao vivo por criminosos. O presidente classificou os grupos criminosos como terroristas e ampliou os poderes das Forças Armadas na segurança pública.

No entanto, as medidas resultaram em denúncias de abusos, incluindo torturas, execuções e prisões arbitrárias, principalmente contra a população mais pobre. Em janeiro deste ano, o caso de quatro adolescentes mortos após serem presos por militares em Guayaquil chocou o país e levou à prisão de 16 agentes das Forças Armadas.

O segundo turno promete ser acirrado, com os equatorianos decidindo não apenas o futuro político do país, mas também a estratégia para enfrentar a crescente violência e instabilidade social.

Fotos: David Diaz e Henry Romero/Reuters (proibida a reprodução)