Nas últimas semanas, o clima no Brasil tem evidenciado duas realidades contrastantes. Enquanto o Sul, partes do Sudeste e o Mato Grosso do Sul enfrentam um veranico que prejudica a produtividade das lavouras, o restante do Centro-Oeste, Norte e Nordeste vivenciam chuvas volumosas. Essas precipitações excessivas têm causado atrasos na colheita e aumento na umidade dos grãos, impactando negativamente a qualidade da produção, de maneiras distintas em cada região.
De acordo com o mapa de disponibilidade hídrica divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a irrigação do solo varia conforme a localização. As áreas em verde e azul indicam maior disponibilidade de água, enquanto as em amarelo e laranja enfrentam escassez hídrica. Embora os dados definitivos sobre os impactos na qualidade dos grãos ainda não sejam conclusivos, o Ministério da Agricultura (Mapa) reforça a importância de manter o teor de umidade da soja entre 12% e 14% para assegurar tanto a qualidade quanto a rentabilidade da safra.

Para o professor Elmar Luiz Floss, doutor em agronomia e diretor do Instituto Incia, os períodos de estiagem têm um impacto direto na produtividade das lavouras, pois alteram os processos hormonais e nutricionais das plantas. “Sem água, a planta interrompe a produção de hormônios de crescimento e passa a gerar inibidores que antecipam o ciclo produtivo, o que leva à perda de área foliar, abortamento de vagens e redução do número e tamanho dos grãos”, explica. A falta de água também compromete a absorção de nutrientes essenciais, como o nitrogênio, o que resulta em grãos com menor teor de proteína e maior teor de óleo. “Isso não só reduz o valor comercial, mas também acelera a deterioração do grão”, alerta Floss.
Por outro lado, nas regiões afetadas pelas chuvas excessivas, o solo encharcado compromete a oxigenação das raízes e o crescimento das plantas. A nebulosidade constante dificulta a fotossíntese, essencial para o desenvolvimento saudável da lavoura. Durante a maturação, a umidade excessiva leva à deterioração dos grãos, que podem apresentar fermentação visível e uma coloração marrom devido às alterações no conteúdo de óleo e proteína. Isso afeta o padrão de qualidade exigido pelos consumidores e prejudica a comercialização.
José Domingos Teixeira, engenheiro agrônomo, destaca a importância de práticas rigorosas de manejo para garantir a qualidade da soja. “O produtor precisa não apenas colher a soja no ponto certo, mas também armazená-la corretamente, com boa aeração e separando adequadamente os grãos danificados. Além disso, é essencial eliminar plantas daninhas, como o fedegoso, que liberam enzimas prejudiciais nos silos”, orienta. Teixeira também ressalta o papel do melhoramento genético, que tem proporcionado cultivares adaptadas às condições climáticas adversas. “A genética é crucial, mas o manejo correto é fundamental para assegurar uma soja de alta qualidade”, conclui.
Dentre as variedades que se destacam, a GH2483IPRO tem mostrado excelentes resultados no Centro-Oeste. Sua alta performance e estabilidade são atribuídas ao sistema radicular robusto e ao alto potencial de engalhamento. Além disso, a variedade é resistente a doenças foliares e de vagens, e apresenta boa resistência aos nematóides de cisto. Já no Sul, a variedade GH2463I2X se destaca pela combinação de sanidade e alta produtividade, características que a tornam ideal para as condições específicas da região.