China suspende importação de soja de cinco empresas do Brasil após detecção de agrotóxicos

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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), anunciou que foi notificado pela Administração Geral de Aduanas da China (GACC) sobre a detecção de pragas e resíduos de pesticidas em carregamentos de soja exportados por cinco empresas brasileiras para o país asiático. Como resultado, a China suspendeu a importação do grão brasileiro até que o problema seja resolvido.

As empresas afetadas, de acordo com a Reuters, incluem a Cargill Agrícola S.A., ADM do Brasil, Terra Roxa Comércio de Cereais, Olam Brasil e C.Vale. A decisão foi comunicada pelas autoridades chinesas no dia 8 de janeiro. O Brasil de Fato tentou contato com as empresas, mas não obteve respostas.

A economista Diana Chaib, pesquisadora das relações sino-brasileiras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), considera a suspensão um “alerta ao agronegócio brasileiro”, destacando a necessidade de melhorar os controles de qualidade e rever o uso de agrotóxicos. Para ela, a continuidade do comércio com a China depende do cumprimento rigoroso de padrões ambientais e sanitários.

Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, alerta que o uso excessivo de pesticidas no Brasil tem gerado consequências tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública. Ele também critica a dependência do Brasil em relação ao agronegócio, o que torna o país vulnerável a crises externas, como essa suspensão. Tygel sugere que o Brasil deve buscar alternativas, como a agricultura sustentável e o fortalecimento de mercados na América Latina e na África.

O impacto da medida será mais evidente conforme a duração do embargo. Segundo Chaib, a suspensão pode afetar não só os preços da soja, mas também aumentar os custos da ração para gado, o que tornaria a carne brasileira menos competitiva no mercado internacional.

O Brasil continua sendo o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, superando China e Estados Unidos, com isenções fiscais que incentivam o uso dessas substâncias. Além disso, desde 2012, o país possui um Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), que foi enfraquecido pelos governos anteriores e não foi reativado sob a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista, a biomédica Karen Friedrich, da Fiocruz, destacou os perigos do uso indiscriminado de agrotóxicos e as consequências para a saúde pública e o meio ambiente. Ela comparou a resistência das pragas no Brasil ao efeito dos antibióticos nas bactérias, argumentando que a resistência das pragas pode agravar ainda mais o problema.

O Mapa informou que outras unidades das empresas afetadas continuam exportando normalmente para a China, e que a suspensão é válida apenas para as cinco unidades notificadas. O ministério ainda aguarda os planos de ação das empresas para evitar novos incidentes e espera que o embargo seja suspenso em breve. No entanto, não forneceu detalhes sobre as causas específicas do embargo, limitando-se a divulgar uma nota oficial.

A China, maior importadora de soja do mundo, representa mais de 60% do comércio global do grão. Em 2024, a China importou mais de 100 milhões de toneladas de soja, das quais 54% vieram do Brasil. Isso faz do país asiático o principal destino da soja brasileira, com dois terços da produção nacional sendo exportada para a China.

Com informações do Brasil de Fato – reportagem de Leonardo Fernandes

Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP