Cartilha ganha versão em guarani-kaiowá para combater violência sexual infantil nas aldeias indígenas de MS

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O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), por meio da Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ), está desenvolvendo uma nova versão da cartilha do projeto “Estrelas na Cabana”, com o objetivo de combater a violência sexual infantil, agora adaptada para a realidade indígena. Esta versão traz uma importante novidade: a inclusão de elementos culturais indígenas, como o uso do idioma guarani-kaiowá, além do português, ampliando o alcance da ação e garantindo que as crianças possam acessar as informações na sua língua materna.

A ação conduzida pela CIJ tem o propósito de fortalecer a proteção infantil por meio de recursos como literatura e audiovisual, abordando temas delicados, como a violência sexual, de forma lúdica e educativa. O objetivo da cartilha é capacitar as crianças para que saibam como se proteger de possíveis abusos, identifiquem sinais de violência sexual e se sintam encorajadas a denunciar, por meio de um diálogo aberto e informativo.

De acordo com a coordenadora de Apoio às Articulações Interinstitucionais da CIJ, Doemia Ignes Ceni, foi identificado que no município de Amambai, a presença indígena tem grande influência, já que as crianças das aldeias são alfabetizadas inicialmente em seu idioma materno, o guarani-kaiowá. Por isso, a necessidade de adaptação da cartilha à realidade local se tornou evidente. “Percebemos que em Amambai a cartilha precisava ser elaborada com base na realidade local, respeitando as diretrizes do município que alfabetizam as crianças indígenas em seu idioma de origem. Assim, realizamos a tradução da cartilha para o guarani-kaiowá, e o personagem principal da história também é uma criança indígena. Dessa maneira, as crianças se sentirão mais próximas da história”, explicou Doemia.

A psicóloga de Amambai, Elenice Peixoto da Costa dos Santos, destaca a relevância da cartilha para o combate à violência infantil na região, onde existem três aldeias com uma população indígena de cerca de 8.000 pessoas, sendo 3.000 crianças. Ela afirma que os índices de violência são elevados, o que torna o material ainda mais necessário. “Infelizmente, há muitos casos de violência contra crianças indígenas, de diversas naturezas. Levar essa discussão para as escolas municipais é essencial para conscientizar e educar as crianças sobre esse grave problema”, disse Elenice.

A professora da rede municipal de ensino de Amambai, Aparecida Benites, explica que a cartilha será utilizada em diversas atividades pedagógicas, tanto dentro quanto fora da sala de aula, com um enfoque multidisciplinar e sempre de maneira lúdica. “Por ser um tema tão sensível, é fundamental adaptar a abordagem para a realidade das crianças e adolescentes, trabalhando a questão de forma leve e educativa”, ressaltou a professora.

Após a conclusão da nova versão da cartilha, será realizado um lançamento oficial em Amambai, com a participação das lideranças indígenas. A obra será distribuída para todas as escolas da rede municipal de ensino.

O livro “Estrelas na Cabana”, lançado em junho de 2021 pela CIJ, foi escrito pelas autoras Débora Amaro e Viviane Vaz. Desde seu lançamento, a cartilha já foi distribuída para os municípios de Campo Grande, Sonora, Dourados, Deodápolis, Amambai, Aral Moreira e Fátima do Sul, atingindo um grande número de crianças e educadores.

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