A crise nos mercados financeiros globais se prolongou por um terceiro dia consecutivo nesta segunda-feira (07), após as novas tarifas comerciais impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que afetaram a maioria dos parceiros comerciais do país. A perspectiva de uma guerra comercial em larga escala gera temores de uma recessão global, com possíveis consequências negativas para o crescimento econômico, inflação e desemprego em diversas nações.
Nesta semana, os mercados acionários da Ásia, Europa e EUA apresentaram novas quedas, impulsionadas pela recusa de Trump em reconsiderar suas medidas. Em uma declaração a repórteres no domingo (06), Trump justificou sua postura, dizendo: “Às vezes, é preciso tomar remédios para consertar alguma coisa”.
As expectativas são de que essas tarifas levem a um aumento nos custos de produção, maior volatilidade nos mercados financeiros, queda da confiança empresarial e interrupções nas cadeias globais de suprimentos.
Recessão Global à vista?
De acordo com a J.P. Morgan, uma das principais instituições financeiras do mundo, as chances de uma recessão global aumentaram de 40% para 60% após o anúncio das novas tarifas. A recessão é caracterizada pela contração da economia, frequentemente medida pela queda no Produto Interno Bruto (PIB) de um país. Essa crise pode resultar no aumento do custo de bens essenciais e na redução da renda das famílias. A pandemia de Covid-19 é um exemplo recente de uma crise econômica global que exigiu respostas urgentes dos governos, como programas de ajuda para combater a pobreza.
O Deutsche Bank alertou, nesta segunda-feira, que, ao persistir em sua abordagem de tarifas recíprocas, Trump está criando “imensas implicações globais para 2025 e para as próximas décadas”.
Até o momento, os países mais afetados são os asiáticos, como Vietnã, Taiwan e Indonésia, que estão buscando novos acordos comerciais com os EUA para evitar o colapso de setores industriais essenciais. A Índia, que enfrentará uma sobretaxa de 26% sobre seus produtos a partir desta quarta-feira (09), também optou por buscar uma nova negociação comercial com Washington, sem retaliar a Casa Branca.
A China, por sua vez, foi diretamente afetada pela imposição de uma tarifa adicional de 34% sobre seus produtos e, até o momento, é o único país a adotar sanções retaliatórias contra os EUA. Na última sexta-feira (04), Pequim anunciou tarifas extras de 34% sobre os produtos americanos e restringiu a exportação de terras raras – matérias-primas essenciais para a produção de novas tecnologias e energias limpas. Em resposta, Trump ameaçou, nesta segunda-feira, impor tarifas adicionais de 50% caso a China mantenha essas medidas.
A União Europeia, que deve ser afetada por uma taxa de 20% sobre suas importações, anunciou nesta segunda-feira a imposição de tarifas de 26 bilhões de euros sobre produtos dos EUA, como retaliação às tarifas de 25% impostas previamente sobre aço e alumínio. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou no domingo que o bloco está pronto para “defender seus interesses com contramedidas proporcionais”, embora também tenha mostrado disposição para negociar com Washington.
O banco holandês ABN Amro reduziu pela metade sua previsão de crescimento para os países da União Europeia, projetando crescimento “em torno de zero” no primeiro trimestre, com grande chance de um resultado negativo.
EUA: Catástrofe Econômica Autoprovocada
Após um crescimento médio de quase 3% desde o fim da pandemia de Covid-19, os EUA agora enfrentam o que a empresa de pesquisa Morningstar descreveu como uma “catástrofe econômica autoprovocada”. O aumento da probabilidade de uma recessão nos EUA foi refletido em estimativas recentes, com a S&P Global elevando suas previsões de uma recessão para entre 30% e 35%, frente aos 25% projetados em março. O Goldman Sachs elevou a probabilidade de uma estagnação econômica nos EUA para 45%, enquanto o Barclays prevê que a contração ocorrerá nos próximos meses.
Steve Cochrane, economista-chefe da Moody’s Analytics, alertou que os EUA podem entrar em recessão de forma rápida e prolongada. A Capital Economics também apontou que, se Trump não conseguir renegociar acordos comerciais, a queda nos mercados de ações será acompanhada por um “colapso na confiança das famílias e empresas”.
De acordo com o Federal Reserve (FED), liderado por Jerome Powell, as tarifas provavelmente levarão a um aumento na inflação e a uma desaceleração econômica, com um risco elevado de aumento do desemprego.
Os mercados agora esperam que Powell anuncie cortes nas taxas de juros mais cedo do que o esperado anteriormente.
O Impacto das Tarifas no Crescimento da China
As tarifas de Trump também prejudicam a economia chinesa, afetando negativamente as exportações e gerando alta volatilidade nos mercados financeiros. Espera-se que Pequim implemente políticas monetárias e fiscais internas para mitigar os efeitos das tarifas. Em uma publicação, o jornal porta-voz do Partido Comunista chinês procurou tranquilizar seus leitores, afirmando que “o céu não cairá”, apesar do impacto das tarifas estadunidenses.
O Ministério das Relações Exteriores da China chamou a política tarifária dos EUA de “bullying econômico”, argumentando que ela é “incompatível com as regras do comércio internacional”. O governo chinês, no entanto, não confirmou se o presidente Xi Jinping buscará uma solução diplomática com Trump.
O Goldman Sachs revisou suas previsões de crescimento da China para baixo, agora prevendo uma redução de pelo menos 0,7% no PIB do país este ano, devido às tarifas impostas pelos EUA. A empresa de análise Kaiyuan Securities acredita que as tarifas podem reduzir as exportações chinesas para os EUA em quase um terço, impactando o crescimento econômico em 1,3%.
O impacto das tarifas de Trump está moldando um cenário de instabilidade econômica global, com riscos elevados para o crescimento, inflação e confiança nos mercados. A ameaça de uma recessão global se torna mais real à medida que economias chave enfrentam quedas nas exportações e aumentos de custos, o que pode gerar um ciclo vicioso de desaceleração econômica.
Com informações do DWBrasil
Foto: Brendan McDermid/Reuters